Porcolitro

Porcolitro era um leite muito safadinho, derramava sempre. Os outros litros falavam para ele: cuidado, você vai acabar sujando tudo. Mas o litro não estava nem aí, todo dia fazendo a mesma coisa. Até que um dia veio uma fada e transformou o litro em porco, num porcolitro, que protagonizou mil aventuras...



Créditos das aventuras de Porcolitro: Milton Nascimento e Maria Dolores Duarte.
As aventuras a seguir são por minha conta.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os descartáveis do Brasil

É possível que defender o Facebook como uma grande ferramenta de circulação de ideias e transações culturais, em detrimento de óbvio caráter voyeur, seja truísmo semelhante àquele de que se compra Playboy pelas entrevistas. Mas eu, que encerrei um longo período de resistência a esta rede na semana passada, graças ao incentivo e iniciativa de meu pai, confesso que me impressionei com sua capacidade de alcance. Entre curtições e partenogênese de amigos, já encontrei muitas coisas bacanas. Isso de compartilhar me parece realmente a grande sacada do facebook.

Quando o isolamento e individualismo são regra ordinária, socializar em rede torna-se uma válvula de escape real. As famílias são menores, um quarto para cada irmão, as cartas chegam por computador, não damos carona, cada pessoa tem seu número de telefone particular (ou vários deles). Na semana passada, meu amigo Fernando lamentou que as pessoas sempre escolham o assento mais distante de qualquer outra pessoa, uma observação que não soou inédita a meus ouvidos.

Nesse sentido, praticar a coletividade virou mais uma forma de resistência, embora pareça tão demodé. Ideia semelhante foi expressa pela nota divulgada pelo Centro Acadêmico de Psicologia da USP, sobre o assassinato de um estudante da FEA, dentro do campus da capital. Enquanto a repressão e o individualismo são as respostas esperadas aos atos  a violência e o medo que nos paralizam, o CA propõe o oposto: apropriação do espaço público da universidade pela comunidade e democratização dos debates sobre políticas de segurança. A nota ainda é encerrada com a assinatura do CA. Ideias nunca são uníssonas. Ainda assim, foi um final bonito e cheio de significado. Afinal, tornamo-nos uma sociedade individual, vigiada, rastreada e blindada e nada disso nos deu a sensação de segurança que esperávamos. Ao contrário, amarelamos, impotentes.

Não só indivíduos perdem com isso. Evidentemente, a desarticulação é uma interessante lacuna para a manipulação política. Uma greve de médicos ou bancários sempre depõe contra o governo ou as instituições financeiras, por exemplo. Uma greve docente, que atravesse meses e quilômetros, há anos não incomoda mais ninguém. A marginalização da categoria docente da vida social culmina no cenário patético que segue: temos que provar que existe greve. Essa é para padre Quevedo "Non eczizte greve", ele diria, não fosse nosso antigo conhecido Alkmin fazê-lo por si. Os professores deflagram um movimento grevista, ninguém nota, a mídia conspira contra e viramos vagabundos. Pelo menos vagabundos iluminados, como num Kerouac que o (amado) Dops me emprestou no universo paralelo assisense.

A greve dos professores do Centro Paula Souza é a do momento. Sigamos acompanhando.

5 comentários:

  1. pois é má, o espaço publico definha e todos querem ficar na sua toca individual. E qdo saem, se possível, é bom ver um policial do lado. É isso q ocorre no campus da usp agora.

    Mas não embarco no facebook não. Ainda acho q a empresa q mais promove redes sociais no mundo é a Ambev, hehehe. Aliás, que sacada evocar o padre Quevedo, dei risada qdo li.

    Beijo

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  2. Que que é isso, Vi? Cadê sua plasticidade social?
    Brincadeira.
    Tem razão! Na Ambev eu já criei meu perfil faz tempo. É uma pena que ela não encurte os quilômetros também.

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  3. "transações culturais"? hehehe. Acho que tu anda lendo uns antropólogos contemporâneos.
    Sem falar que essa negócio de uma pessoa com vários números de celular é super sociedade do controle deleuzeana (nos tornamos quantas cifras quisermos)
    em tempo: as pessoas escolhem o assento mais distante de outras pessoas (principalmente se for de um preto)
    beijão

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  4. alias, o texto do post foi tão bom que eu até esqueci que adorei o título

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  5. Danilo, querido! Esses antropólogos contemporâneos fazem mesmo minha cabeça, e pelo visto esta não é uma questão de gênero. rs

    Estes descartáveis somos nós! Evoquemos qualquer antropologia barata e uns litros de cerveja para explicar este fenômeno.

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