Porcolitro

Porcolitro era um leite muito safadinho, derramava sempre. Os outros litros falavam para ele: cuidado, você vai acabar sujando tudo. Mas o litro não estava nem aí, todo dia fazendo a mesma coisa. Até que um dia veio uma fada e transformou o litro em porco, num porcolitro, que protagonizou mil aventuras...



Créditos das aventuras de Porcolitro: Milton Nascimento e Maria Dolores Duarte.
As aventuras a seguir são por minha conta.

terça-feira, 29 de abril de 2014

первые стихи

книги на столе
о чем они говорят мне?
о любoви, о жизни?
Я гуляю в парке, смотрю на друзей.
я, маленький человек,знаю 
Я учуcь много когда я живу.

domingo, 20 de abril de 2014

Mulher temporã

Sou de um tempo
em que os vizinhos se cumprimentavam
e quando algo quebrava
consertávamos
havia em cada bairro um bom sapateiro
e uma super bonder
em toda geladeira

Sou de um tempo
que a mulher nascia e vivia
para ser mãe
e amar seu marido
e se dedicar à família
o bem mais precioso

Sou de um tempo
que a mulher não trabalhava
e que deveria se cuidar
ter seios fartos para amamentar
quadril largo para gerar
deveria também ter mãos macias
e coração acolhedor

Por isso hoje, pela manhã
enquanto a água do café fervia
colei a sola do meu velho sapato
companheiro de marcha

Saí à rua e lá estavam meus vizinhos
dormiam em papelões nas calçadas
eram crianças, mulheres e homens
sem mãe e sem família
quis consertar
fiz de todos, meus filhos

Eu, mulher temporã
com meus seios secos
meu útero seco
minhas mãos calejadas
e meu coração
vadio
trabalhei por mim
e por eles e por todos
o mundo, o bem mais valioso
e meu tempo, hoje.

sábado, 19 de abril de 2014

Jet lag (ou A mulher que amei um dia ou Ode ao sutiã de bojo)

A mulher que amei uma noite
num canto de boate qualquer
era fria e quente
uma fervura de sal

A mulher que amei uma manhã
num canto da casa qualquer
era pronta e diferente
um afeto sazonal

A mulher que amei uma tarde
num banco de parque qualquer
era morna, fluente
um calor equatorial

Eu lembro

havia um balanço em seu quadril
cabelos grudados na nuca
riso tão fácil
para uma felicidade impossível

não pude tocar-lhe a alma
nem as mãos
nem os seios
os peitos firmes, despojo
rijos de nojo
duros do bojo

Eu, nu, em casa, de graça
Ela, armada, em prantos, couraça
Eu: amar cura
amargura
Ela: amar dura
armadura