Porcolitro

Porcolitro era um leite muito safadinho, derramava sempre. Os outros litros falavam para ele: cuidado, você vai acabar sujando tudo. Mas o litro não estava nem aí, todo dia fazendo a mesma coisa. Até que um dia veio uma fada e transformou o litro em porco, num porcolitro, que protagonizou mil aventuras...



Créditos das aventuras de Porcolitro: Milton Nascimento e Maria Dolores Duarte.
As aventuras a seguir são por minha conta.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Jonas e a baleia

Um belo dia - Caetano, meu aluno, perguntou-me porque tudo sempre acontece em um belo dia "não pode ser um dia feio ou chuvoso?", disse ele, então mudarei esta introdução para -, ou talvez em um dia nem tão belo assim, em um dos tantos navios que singraram o Atlântico de um lado a outro, estava a formosa Rosa Dacal, que vinha da Cataluña ao Brasil com sus chicos Joaquina e Jonas. Pela triste tragédia sempre presente nestas ousadas travessias, morreu o pequeno Jonas, daquelas pestes de navios. Foi jogado ao mar, sua sepultura última.

Esta história, Rosa contou a sua netinha brasileira, Maria Apparecida. De educação cristã, a menina nunca teve dúvidas: Seu tio Jonas fora aquele famoso, o engolido pela baleia.

segunda-feira, 21 de março de 2011

É o que tem pra hoje*

Esta semana, depois de páginas e páginas do De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso [Patas arriba] do Eduardo Galeano, lidas numa fila que atravessou as horas e o sol poente para dar em nada, recusei-me a morrer na praia.
Como é do meu feitio "viajar grandão" - como diz minha querida Tia Lolô - comecei ali mesmo a articular algumas palavras para um poeminha de circunstância em homenagem àquela triste situação. Pensei, logo desisti. Fui vencida pelo texto que lia, talvez oprimida por ele. Não tenho este espírito competitivo, tampouco o fervente sangre latino de Galeano. Precisaria de um desaforo muito maior ou anos afora para conseguir encadear versos com a sagacidade necessária e sem a amargura do momento. Com os olhos embotados e a garganta trancada pela certeza da minha impotência diante do Cosmos e da gerente,  não saiu mais que este haikai.


Fui aonde não queria estar e fiquei
senti frio, fome e solidão
Saí de lá e bati o carro.





* Este título é uma homenagem a minha afilhada Natália do blogue Let´s Rock!, que, embora recém-carioca, sempre me atualiza das descoladas gírias e expressões paulistanas, como aquela "isso pra mim é 'OK' ".



segunda-feira, 14 de março de 2011

Melissa

O gosto doce, mel
um jeito manso, céu
danças e rumbas, créu
cores e nuvens, léu

telas em branco, pincel
teces enigmas, babel
finais felizes, cordel
colhes da rua, granel

a mão amiga, fiel
fere e corrompe o painel
sempre me diz que, well
a vida é toda Mel.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Continua lindo

Há tempos carnaval significava para mim a agonia em forma de feriado: A mulher pelada do Hans Donner, propaganda idiota de cerveja com mulher pelada, mortes na estrada e mulher pelada, use camisinha e mulher pelada, festa, folia e mulher pelada. Eu não tenho nada contra mulheres peladas, tirando o fato de elas serem gostosas e sensuais de forma tal que jamais serei algum dia, elas que sigam em sua existência nude. Eu não ligo não. Na verdade, sempre pensei que devesse haver um charme nas feias e chatas, e que para elas sempre haveria a cara cheia e os finais de festa.

Acontece que eu fui para o Rio: pela primeira vez um carnaval no Rio. E como previu o Iuri, foi como ir a Roma e ver o Papa, embora eu duvide que ver o Papa deixe pessoas tão extasiadas daquele tesão incontrolável, bêbadas e despreocupadas e mijando em qualquer meio fio. Com tudo isso, a comparação ainda foi justa.
Este carnaval foi como se fosse o meu primeiro. E digo isso tanto com a parcela de exagero que me é característica, quanto com o hiperbolismo que osmoticamente absorvi apenas por estar no Rio. Eu vivi o frenesi de ter a vida mudada pela bugiganga do 011-1406 e o gozo invertido que é o nascer, como diz o Tom Zé. Nasci para o carnaval naquele sábado.

E fui descobrindo a cada alalaô por que o Rio de Janeiro é um lugar tão impressionante. Não é preciso sensibilidade alguma para admirá-lo. Tudo no Rio é estúpido, sem vaselina: a beleza daqueles contornos, as ondas que nos sacodem revelando nossas partes sem discrição, os pés que multiplicam-se em centenas e centenas de passos por minuto, as bundas de toda sorte que passam sem pedir licença, a festa em blocos que atropelam a miséria dormida serenamente nas calçadas sob o suvaco do Cristo. Tudo isso é muito diferente de São Paulo, cuja beleza excêntrica só Caetano conseguiu - com algum esforço - captar.
Fora do Rio, ouvir samba ou  bossa é fora de contexto e não passa de uma quase lembrança, etérea e latente, daqueles tempos de lá.

Passados o tesão incontrolável, a embriaguez e a vontade de mijar na rua, ou pelo menos grande parte disso tudo - o que aconteceu em algum momento entre os pedágios da Dutra e meu despertador que voltou a trabalhar às cinco e meia nesta quinta feira - conclui que foi grande ingenuidade minha odiar carnaval. Nada seria tão legítimo quanto esta festa se não fosse bom, se nela não coubessem todos - dos libertários aos reaças, do samba e da bossa, do cume e do sopé. Brincar o carnaval é dado a priori. Finalmente aprendi que quem não gosta de samba -não tem jeito -  não pode ser bom sujeito.