Porcolitro

Porcolitro era um leite muito safadinho, derramava sempre. Os outros litros falavam para ele: cuidado, você vai acabar sujando tudo. Mas o litro não estava nem aí, todo dia fazendo a mesma coisa. Até que um dia veio uma fada e transformou o litro em porco, num porcolitro, que protagonizou mil aventuras...



Créditos das aventuras de Porcolitro: Milton Nascimento e Maria Dolores Duarte.
As aventuras a seguir são por minha conta.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

lembrança

uma imagem em bitmap
com uma metáfora de você
lembra-me diariamente
-mais precisamente as seis-
das texturas e cores
dos excessos e dores
d'alegria e amores
de nossa pequena realidade
reduzida a virtualidade
de uma tela colorida em baixa definição
enquanto espero indefinidamente
recriar e reviver
o espetáculo sinestésico,

moreno, que você me deu
com seu cheiro e seu gosto
de vida e de amor.

sábado, 2 de agosto de 2014

Amor

A descoberta do vácuo
dois corpos desafiam as leis científicas
almas etéreas e não líricas
Racionalidade, demonstração de teoremas
integrais, derivadas,
variações sobre um tema

O amor é eletromagnetismo
química pura
física aplicada
o olhar incide sobre o côncavo
refletindo ângulos obtusos

O coração é uma bomba
mitocôndrias a mil

Calculo
prevejo um novo big bang


domingo, 15 de junho de 2014

Duas línguas (bilingual)

Little shell
uai se
tá frio demais
ice
tá agradável
nice
quando acaba
vai-se
tá perdido
advice
ou tenta a sorte
dice

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Delivery


Às vezes
tá sol demais
ou frio
ou chuva
ou vento

Ou então sou eu
cansado
vazio
amargo
cinzento

Entregam em casa
água
verdura
putas
cimento

Mas moro só
sobra
estraga
encalha
nojento

Eu bem queria
carinho
amor
ardor
contento

Sair de casa
ah não
dá não
foi mau
lamento

segunda-feira, 12 de maio de 2014

domingo, 11 de maio de 2014

A primeira citação

Assim eu quereria minha primeira citação
 


Obrigada, Pam!



"Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação."
Manuel Bandeira, O último poema.
Em Libertinagem, 1930. 

terça-feira, 6 de maio de 2014

Soneto a um caipira francês

Por onde andará Ducão?
em Santos ou Angers
em Pira ou em Paris
longe ou ao alcance da mão?

Por onde andará Ducão?
na foto ou na lembrança
na escola ou no bar
no batuque ou na canção?

Por onde andará Ducão?
e quem o acompanha
onde andará?

Por onde andará Ducão?
em todos os lugares
ou só no meu coração?


dos idos de 2007.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Xerocópia - um poeminha pra esquentar os corações


pelos copylefts
a esquerda clama
pensando bem
é até sacana

eu aqui
fim de semana
e as xerocópias
na minha cama

um pornozim
intelectual
xerocopiei
na maioral

quanto mais
eu xerocopio
menos estudo
sou um vadio

elas me olham
e dizem assim
"benzin
vem pra cá

larga esse pdf
vem pra cá
pra xerocopiar"

Eu fui
porque
pra bom xerocopiador
meia xerocópia
não basta


terça-feira, 29 de abril de 2014

первые стихи

книги на столе
о чем они говорят мне?
о любoви, о жизни?
Я гуляю в парке, смотрю на друзей.
я, маленький человек,знаю 
Я учуcь много когда я живу.

domingo, 20 de abril de 2014

Mulher temporã

Sou de um tempo
em que os vizinhos se cumprimentavam
e quando algo quebrava
consertávamos
havia em cada bairro um bom sapateiro
e uma super bonder
em toda geladeira

Sou de um tempo
que a mulher nascia e vivia
para ser mãe
e amar seu marido
e se dedicar à família
o bem mais precioso

Sou de um tempo
que a mulher não trabalhava
e que deveria se cuidar
ter seios fartos para amamentar
quadril largo para gerar
deveria também ter mãos macias
e coração acolhedor

Por isso hoje, pela manhã
enquanto a água do café fervia
colei a sola do meu velho sapato
companheiro de marcha

Saí à rua e lá estavam meus vizinhos
dormiam em papelões nas calçadas
eram crianças, mulheres e homens
sem mãe e sem família
quis consertar
fiz de todos, meus filhos

Eu, mulher temporã
com meus seios secos
meu útero seco
minhas mãos calejadas
e meu coração
vadio
trabalhei por mim
e por eles e por todos
o mundo, o bem mais valioso
e meu tempo, hoje.

sábado, 19 de abril de 2014

Jet lag (ou A mulher que amei um dia ou Ode ao sutiã de bojo)

A mulher que amei uma noite
num canto de boate qualquer
era fria e quente
uma fervura de sal

A mulher que amei uma manhã
num canto da casa qualquer
era pronta e diferente
um afeto sazonal

A mulher que amei uma tarde
num banco de parque qualquer
era morna, fluente
um calor equatorial

Eu lembro

havia um balanço em seu quadril
cabelos grudados na nuca
riso tão fácil
para uma felicidade impossível

não pude tocar-lhe a alma
nem as mãos
nem os seios
os peitos firmes, despojo
rijos de nojo
duros do bojo

Eu, nu, em casa, de graça
Ela, armada, em prantos, couraça
Eu: amar cura
amargura
Ela: amar dura
armadura