Porcolitro

Porcolitro era um leite muito safadinho, derramava sempre. Os outros litros falavam para ele: cuidado, você vai acabar sujando tudo. Mas o litro não estava nem aí, todo dia fazendo a mesma coisa. Até que um dia veio uma fada e transformou o litro em porco, num porcolitro, que protagonizou mil aventuras...



Créditos das aventuras de Porcolitro: Milton Nascimento e Maria Dolores Duarte.
As aventuras a seguir são por minha conta.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A mulher cordial (ou procura-se Donna Haraway)

Quisera eu que este fosse um ensaio sociológico ou um esforço analítico sobre alguma categoria social. Que revelasse conclusões entusiasmadas sobre a historicidade do universo feminino ou que atestasse sobre meu arcabouço teórico feminista. Não é também uma tese original. São mais ideias que nasceram bêbadas, sobreviveram a uma ressaca suave e persistente e ganharam minha segunda-feira, quando acabaram por coalhar neste ciberespaço.

A verdade é que não é nem um pouco fácil entender-se mulher e procurar lugar no mundo. E quando digo procurar lugar no mundo, é porque entendo que o mundo não foi feito para mulheres, ah! não foi mesmo. Esta conjectura salta aos olhos em todas as instâncias da realidade: da propaganda que oferece utilidades eletrodomésticas a mulheres, no papo da recém casada orgulhosa porque seu marido "a ajuda". Também na história, queremos caçar a existência do universo feminino soterrada em meio a tantas memórias macho alfa. Quando versamos sobre o papel da mulher na polis ou no engenho, fica ainda mais explícito a função coadjuvante delas.

Este é o mundo dado. A mulher existe, encarna tipos, desempenha papéis. É livre ou submissa, madame ou descolada, matrona ou menina, atirada ou difícil. Mas nunca aparece oficialmente. Dei-me conta disso quando Pedro, no primeiro dia de aula, disse: "Professora, por que só há homens no nosso livro?". Enchi-me de esperança e orgulho. "Desta sensibilidade ingênua pode estar nascendo novos tempos", pensei. Mas a história que se seguiu não tomou o curso que desejei. Outro dia, outro aluno, o Samir me disse "minha mãe não tem que ver meu caderno, porque eu sou homem".

Todas estas questões são doloridas, mas vulgares. Resumir em si o ser essencial e desimportante já faz parte das habilidades inatas ao universo feminino. O que se ganha em troca é a flor, a joia, o micro-ondas o status mãe-do-mundo , nossa senhora. É uma troca injusta. Parimos este mundo masculino e não fazemos parte dele, porca miséria.

 A Haraway ficou para outro dia.


Eu tive que editar este post, por questão de ordem. Nenhuma destas ideias seriam blogadas não fosse Vinícius, um verdadeiro homem ibérico.

Um comentário:

  1. Texto perfeito, Marilia!
    Desde que o mundo é mundo sempre foi e sempre será assim. Infelizmente.
    Mulher parece que nasceu pra ser coadjuvante, por mais que lute pelos seus direitos. É cultural e ancestral ... e precisaremos de muitas gerações para colocar as coisas no seu DEVIDO lugar.
    Bjs.

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