Quisera eu que este fosse um ensaio sociológico ou um esforço analítico sobre alguma categoria social. Que revelasse conclusões entusiasmadas sobre a historicidade do universo feminino ou que atestasse sobre meu arcabouço teórico feminista. Não é também uma tese original. São mais ideias que nasceram bêbadas, sobreviveram a uma ressaca suave e persistente e ganharam minha segunda-feira, quando acabaram por coalhar neste ciberespaço.
A verdade é que não é nem um pouco fácil entender-se mulher e procurar lugar no mundo. E quando digo procurar lugar no mundo, é porque entendo que o mundo não foi feito para mulheres, ah! não foi mesmo. Esta conjectura salta aos olhos em todas as instâncias da realidade: da propaganda que oferece utilidades eletrodomésticas a mulheres, no papo da recém casada orgulhosa porque seu marido "a ajuda". Também na história, queremos caçar a existência do universo feminino soterrada em meio a tantas memórias macho alfa. Quando versamos sobre o papel da mulher na polis ou no engenho, fica ainda mais explícito a função coadjuvante delas.
Este é o mundo dado. A mulher existe, encarna tipos, desempenha papéis. É livre ou submissa, madame ou descolada, matrona ou menina, atirada ou difícil. Mas nunca aparece oficialmente. Dei-me conta disso quando Pedro, no primeiro dia de aula, disse: "Professora, por que só há homens no nosso livro?". Enchi-me de esperança e orgulho. "Desta sensibilidade ingênua pode estar nascendo novos tempos", pensei. Mas a história que se seguiu não tomou o curso que desejei. Outro dia, outro aluno, o Samir me disse "minha mãe não tem que ver meu caderno, porque eu sou homem".
Todas estas questões são doloridas, mas vulgares. Resumir em si o ser essencial e desimportante já faz parte das habilidades inatas ao universo feminino. O que se ganha em troca é a flor, a joia, o micro-ondas o status mãe-do-mundo , nossa senhora. É uma troca injusta. Parimos este mundo masculino e não fazemos parte dele, porca miséria.
A Haraway ficou para outro dia.
Eu tive que editar este post, por questão de ordem. Nenhuma destas ideias seriam blogadas não fosse Vinícius, um verdadeiro homem ibérico.
Texto perfeito, Marilia!
ResponderExcluirDesde que o mundo é mundo sempre foi e sempre será assim. Infelizmente.
Mulher parece que nasceu pra ser coadjuvante, por mais que lute pelos seus direitos. É cultural e ancestral ... e precisaremos de muitas gerações para colocar as coisas no seu DEVIDO lugar.
Bjs.