“Há cento e trinta anos, depois de visitar o país das maravilhas, Alice entrou num espelho para descobrir o mundo ao avesso. Se Alice renascesse em nossos dias, não precisaria atravessar nenhum espelho: bastaria que chegasse à janela”
Eduardo Galeano em Pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso
Nossa racionalidade é capaz de compreender instâncias incrivelmente elaboradas e complexas da vida. Conseguimos entender a radioatividade e a antimatéria. Conseguimos entender a exploração e humilhação do outro. Conseguimos entender a miséria e a fome. Não conseguimos entender a violência.
Vivemos sob a consciência e à espreita da tragédia, somos filhos deste medo. Quando ela vem, existe o choque, a revolta, a politicagem suja, o espetáculo da mídia, pois é hora de usar a criatividade e bolar manchetes desrespeitosas, esdrúxulas. É bonito batizar a tragédia. É bonito fazer discurso anti-prosélitos. É bonito inventar uma capa de jornal marrom. Só não é bonito quando é conosco.
Sempre é conosco.
A humanidade é una, em suas múltiplas manifestações, acho que foi a Lilia Schwarcz quem disse isso. As meninas e meninos de Realengo ou Columbine, do Bumba ou Haiti são nossas meninas e meninos também.
E nós? Nós, que temos o hoje e o amanhã que lhes foram arrancados? Cabe o luto ou já sabemos conviver com esta dor ordinária de nossos tempos? É tempo de introspecção ou ação?
É tempo de buscar respostas?
Como disse Mauro Santayana, não enterremos com as meninas e meninos do Realengo nossos últimos suspiros de humanidade e solidariedade.
Uma leitura humana e atenta deste episódio encontramos no blogue da Maria Frô.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
derrame seu leite aqui