Porcolitro

Porcolitro era um leite muito safadinho, derramava sempre. Os outros litros falavam para ele: cuidado, você vai acabar sujando tudo. Mas o litro não estava nem aí, todo dia fazendo a mesma coisa. Até que um dia veio uma fada e transformou o litro em porco, num porcolitro, que protagonizou mil aventuras...



Créditos das aventuras de Porcolitro: Milton Nascimento e Maria Dolores Duarte.
As aventuras a seguir são por minha conta.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O passeio da miss comunidade

dedicado a meus amigos de labuta.


Olhou-se no espelho. Embora reprovasse muitos detalhes, não se sentia mal. O dia estava lindo, o calor invadia os cômodos da casa  junto a uma luz branca ou um pouco amarelada. Não sentia, mas via o vento nos galhos da árvore em frente a sua janela. "É hoje", disse, como se alguém a pudesse ouvir.
Testou algumas formas de prender o cabelo, decidiu pelo velho rabo de cavalo no topo da cabeça. Sob o  vestido, um biquíni lilás compunha o visual de cores leves e alegres. Calçou os pés com chinelos, prendeu a chave em uma das alças do biquíni. A carteira ficou mesmo debaixo de um dos braços: a ocasião não exigia grandes formalidades. Valeu-se do filtro solar adequado para sua pele e foi.
Chegando, percorreu o calçadão de um lado a outro, e sempre o fazia. Exigente que era, escolhia sempre os melhores lugares.
Não era alta, mas olhava a todos de cima. Fingindo-se desligada, ouvia de todos os lados "melancia, por favor", "é cinco e cinqüenta", "me adiciona no facebook". Algumas vezes era interrompida por algum conhecido: "oi, tudo bem?", "como vai a neném?", "nossacomo você emagreceu", "três por três reais", "mãe me dá um desse". Não tinha como evitar. Era mesmo muito popular entre os dali. Nada disso, porém, a abalava. Seguia solenemente em seu passeio com ares de desfile. Comentários elogiosos surgiam de todas as barracas pelas quais passava. "Oi, linda!", "nossa, que gata", "gostosa", "me olha, princesa", "ê lá em casa" ainda entre "é um real só, madame" e "abacaxi, abacaxi, abacaxi", "você é muito linda, sabia?". As meninas também a olhavam, admiradas, incomodadas, olhavam e entreolhavam-se.
Um senhor negro, de poucos e brancos cabelos, com expressão forte, mas serena estacionou seu carrinho por um instante, para lhe dirigir a atenção e a palavra: "muito bem, menina! tem mesmo que ajudar sua mãe".
Ela sorriu e agradeceu os elogios. Estava calor, as compras pesavam, mas andava com passos ainda mais firmes e confiantes. "Arrasei", pensou. Gostava muito da feira de rua. Principalmente porque - intimamente sabia - era a principal maneira de tomar sol em trajes mínimos por aquelas redondezas.

4 comentários:

  1. é muita vida marília, mt movimento, desejos, diálogos, cores. A feira ferve, o verão é lindo, a moça tbm.

    é bom pensar que o cotidiano e tão rico, basta por o pé na rua.

    beijo.

    ResponderExcluir
  2. este comentário está mais bonito que o post.

    ResponderExcluir
  3. - "Arrasou!"
    Pensei...e vi!

    ResponderExcluir
  4. opa, obrigado!

    e o fundo com a praia ficou lindo.

    até o próximo comentário!

    ResponderExcluir

derrame seu leite aqui