Tão crédula e generosa. Tão leal e honesta.
Ama de verdade e seu amor cura.
A menina tem dúvida: quem poderá amá-la
do jeito que ela ama a outrem?
Não vale dizer que é ela mesma.
A pobrezinha. Viverá ela só
porque ama muito e muito bem?
Menininhazinha, menininha,
Sua vida é sua, meu amor
Esse é um presente que ela mesma, a vida lhe deu
Se deu a você.
Agora, tão pequenina, não mais criança
Aprendeu a admitir que a força que tem não a previne de sentir dor.
Agora, tão pequenina, não mais criança
Aprendeu a admitir que a força que tem não a previne de sentir dor.
Ao revés, lhe encoraja.
Então as conheceu:
Dores doídas, dores lindas, dores dolorosas, dores excruciantes. Dores dolores, dores delusionais. Dores coloridas e sem cor. Dores peçonhentas e dores cancerígenas. Dores discretas, dores finas, agudas dores, dores musicais. Dor lombar, cervical, sacral, sagrada dor. Dor que vem do céu, do inferno, dor. Inverno, dor, verão - sem meia estação. A dor que vem como um sol que queima, a dor que teima. Dor em verso, em prosa e canção.
Saberia o que é o gozo, o que é gozar
não fora o dia em que a pele fina sangrou?
Em qual momento algum alento aliviou?
Em qual momento algum alento aliviou?
Viver é para sentir
e saber que não é sonho e vão.
Para enxergar fundo até doer.
Porém
Não foi tudo o que vi
Não foi tudo o que vi
E nem quero ouvir.
Quero é saber se um dia, numa folia, a alegria me receberá com a simpatia
que lhe é característica
Se a vida alterna assim lógica e rítmica
o que a gente sente
vez sutilmente
vez eloquente
o que é sensível e perecível
o que é horrível e não punível
talvez passível de inundação.
Ou se, um dia, no fim do dia
o fim dos dias trará alívio
transferiria a agonia a outras mãos?
Sei não.
Não penso em morte, porque tal sorte parece azar.
Penso sim, numa magia ou um feitiço eficaz e infalível
onipotente e invencível
que me avisa antes, bem antes que vai doer
mas não precisa, menina,
assim sofrer.
Dorme, menina.
Sonha.
Acorda.